Foto reproduzida do site: paraibacriativa.com.br
Jackson, um malandro nordestino.
Do alto da serra onde fica a cidade de Areia, em plena
região do brejo paraibano, avista-se lá embaixo a cidade de Alagoa Grande, com
a lagoa que dá nome à cidade brilhando à luz do sol nordestino, como uma colher
de prata em cima de uma toalha verde. Pois foi em Alagoa Grande, em 31 de
agosto de 1919, que nasceu José Gomes Filho, que mais tarde viria a se tornar
conhecido como Jackson do Pandeiro.
Queria ser sanfoneiro. Mas a sanfona era um instrumento
caro, e sendo o pandeiro mais barato, foi esse que recebeu de presente da mãe,
Flora Mourão, cantadora de coco, a quem desde cedo o menino ouvia cantar coco,
tocando zabumba e ganzá.
Aos 13 anos, com a morte do pai, veio com a mãe e os irmãos
morar em Campina Grande, onde começou a
trabalhar como entregador de pão, engraxate e pequenos serviços. Na feira de
Campina, entre um mandado e outro, assistia aos emboladores de coco e
cantadores de viola. Ia muito ao cinema e tomou gosto pelos filmes de faroeste,
admirando muito o ator Jack Perry. Nas brincadeiras de mocinho e bandido com os
outros garotos, José transformava-se em Jack, nome pelo qual passou a ser
conhecido.
Aos dezessete anos, largou o trabalho na padaria para ser
baterista no Clube Ipiranga. Em 1939, já formava dupla com José Lacerda, irmão
mais velho de Genival Lacerda. Era Jack do Pandeiro.
No o início da década de 40, Jackson foi morar em João
Pessoa, onde continuou a tocar nos cabarés, e logo depois na Rádio Tabajara,
onde ficou até 1946.
Em 1948 foi para o Recife trabalhar na Rádio Jornal do
Comércio Foi aí que o diretor do programa sugeriu que ele trocasse o Jack por
Jackson, que era mais sonoro e causava mais efeito quando anunciado ao
microfone.
Somente em 1953, já com trinta e cinco anos, foi que Jackson
gravou o seu primeiro grande sucesso: Sebastiana, de Rosil Cavalcanti. Logo
depois, emplacou outro grande hit: Forró em Limoeiro, rojão composto por Edgar
Ferreira.
Foi na rádio pernambucana que ele conheceu Almira Castilho
de Alburquerque, com quem se casou em 1956 vivendo com ela até 1967. Fizeram
uma dupla de sucesso, ele cantando e ela dançando ao seu lado, tendo
participado de dezenas de filmes nacionais. A paixão por Almira era tão grande
que Jackson chegou a colocar várias músicas no nome dela. Depois doze anos de
convivência, Jackson e Almira se separaram e ele casou com a baiana Neuza
Flores dos Anjos, de quem também se separou pouco antes de falecer.
No Rio, já trabalhando na Rádio Nacional, Jackson alcançou
grande sucesso com O Canto da Ema, Chiclete com Banana, Um a Um e Xote de
Copacabana. Os críticos ficavam abismados com a facilidade de Jackson em cantar
os mais diversos gêneros musicais: baião, coco, samba-coco, rojão, além de
marchinhas de carnaval.
Músicos que o acompanharam como Dominguinhos e Severo dizem
que ele era um grande “sanfoneiro de boca”, o que significa que apesar de não
saber tocar o instrumento ele fazia com a boca tudo aquilo que queria que o
sanfoneiro executasse no instrumento. O fato de ter tocado tanto tempo nos
cabarés aprimorou sua capacidade jazzística. Também é famosa a sua maneira de
dividir a música, e diz-se que o próprio João Gilberto aprendeu a dividir com
ele.
No palco, tinha uma ginga toda especial, uma mistura de
malandro carioca com nordestino. Ficou famoso pelas umbigadas que trocava com a
parceira e esposa Almira.
Já com sessenta e três anos, sofrendo de diabetes, ao fazer
um show em Santa Cruz de Capibaribe, sentiu-se mal, mas não quis deixar o
palco. Já estava enfartado mas continuou cantando, tendo feito ainda mais dois
shows nessas condições, apesar do companheiro Severo, que o acompanhou durante
anos na sanfona, ter insistido com ele
para cancelar os compromissos: ele não permitiu. Indo depois cumprir outros
compromissos em Brasília passou mal, tendo desmaiado no aeroporto e sendo
transferido para o hospital. Dias depois, faleceu de embolia cerebral, em 10 de
julho de 1982.
Texto reproduzido do site: jacksondopandeiro.clotildetavares.com.br
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